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É #FAKE: Ingestão de alimentos “alcalinos” no combate ao novo coronavírus

Temos aqui uma mensagem que está circulando nas redes e diz que o pH do novo coronavírus varia entre 5,5 e 8,5, e que ingerir alimentos com pH superior a esse valor é o suficiente para combater o vírus.

Importante destacar para tomar cuidado com informações divulgadas em grupos de WhatsApp, Facebook e outras redes sociais. Busque sempre informação nos veículos de comunicação ou portais à serviço da ciência.

Valorize a ciência.

POR QUE É #FAKE?

1) Não existe “pH do vírus”

O que existe na verdade é um pH ideal para o vírus se propagar. O pH compatível com a vida é entre 6,8 e 7,8. Assim, o sangue, o fluido do interior de suas células e outros vão ter um pH entre esses valores. Em outros órgãos podemos ter fluidos com pH fora dessa faixa, como suco gástrico (pH 1,5-2,0) e suco pancreático (pH 8,0-8,5).


2) Mudança de pH via alimentação

Os alimentos entram em contato com sistema digestório. Em resumo, pouca mudança de pH pode ocorrer na boca, garganta, esôfago, estômago, quando você ingere um alimento e esse pH volta as condições normais após a ingestão.

O vírus atinge o sistema respiratório, ou seja, vias aéreas superiores, laringe, faringe, pulmões... regiões que não tem o pH alterado, seja por alimentação ácida ou básica. Os alimentos digeridos no estômago têm seus nutrientes absorvidos pelo sangue. Nesse ponto o pH não tem mais relevância, os nutrientes se “dissolvem” no sangue que tem um pH bem definido. Você pode ver mais nesse artigo.

3) Escala de pH

O pH (potencial hidrogeniônico) informa a concentração de íons H+, ou seja, a acidez de uma determinada solução. Na conhecida fórmula pH = -log [H+], a escala utilizada vai de 0 a 14. Valores fora dessa faixa ocorrem em condições especificas, nas quais utilizamos outros meios para expressar a acidez. Na mensagem, os valores fora dessa faixa para o abacate (pH 15,6) e dente de leão (pH 22,7) estão errados.

Pensa na escala de pH como se fosse uma rota de ônibus bem definida, que vai do ponto inicial do centro da cidade até o ponto final em Copacabana (se você não for do Rio de Janeiro, pensa em um bairro que você conheça rs). Em situações comuns, esse ônibus só percorre o trecho entre o Centro da Cidade e o bairro de Copacabana, não ultrapassando nenhum desses dois. O dia que ele ultrapassa é muito raramente.


BÔNUS: Limão alcalino

Fonte: CISCATO, PEREIRA e CHEMELLO. Química, vol. 2, 1ª edição. Editora Moderna: 2015, p. 287.


4) Artigo de Referência

Sobre o artigo de 1991 a que a mensagem compartilhada faz referência, vale lembrar que o coronavírus não é único. É de uma família de vírus que causa infecções respiratórias. E o artigo, publicado no “Journal of Virology”, da Sociedade Americana de Microbiologia, trata de um outro vírus, o MHV4. O vírus da COVID-19 é o SARS-CoV-2.

Outra questão, o artigo da revista não dizia que o MHV4 tinha um intervalo de pH. Na verdade, o objetivo do estudo era ver o que acontecia quando células de camundongos ou ratos eram infectadas com o vírus. Ou seja, também não há nenhuma lista de alimentos no artigo, de acordo com o G1.

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